Esquírola

CCVF - Centro Cultural Vila Flor, Guimarães

Pedro Tudela’s oeuvre seeks the observer’s reaction when he comes into direct contact with the sound and image, thereby suggesting a strategy of organized creation in a system that is open to critical questioning. His random method of construction is based upon a process of trial, error and deviation. His works contain several recurrent guidelines: the questioning of construction of barriers of separation between multiple sound or musical languages; the combination of recent sound fields with ancient musical heritage, inviting people to experience unrecognizable and unconventional fields of intervention; the desire to attain an equatable limit for the notion of silence, as a definitive amalgamation of all sounds or noises; the proposal of “sound” as an abstract and fundamental element, around which multiple gazes and understandings may converge; the confection of soundbased objects that arise in an evident, obvious and inescapable manner, suggesting an identifiable sound body; presentation of a visual and sound poetic approach — which disseminates symbologies and meanings, contaminating space and the objects contained therein; exploration of different degrees of communication, between the layers of imagery and sound material: the production of propagating devices that can radiate simple performance-based effects, and may also reaffirm the rejection of a single method of construction; registration of a reflection or broader critical review of “sound”, perceived as porous, meaningful material; denunciation of the surplus, uniform and saturated nature of messages and communication that tends to soundproof verbalizations which have been removed from the rhetoric of power that dominates our warped, audiovisually-saturated society; the choice of experimentalism as an essential medium underpin- ning freedom of expression, the sole assumption of effectiveness in order to accomplish genuine appreciation of the creative act; subversion of the processing circuit of sending and receiving messages, breaking meanings and intervening via sonic deconstruction that is materialized in the form of objects; alteration of the parameters of sound propagation, used as a medium of representation and abstraction; restitution of the image in the indeterminate space of “sound”, in an attempt to find a link between hearing and vision; exploration of the impact of noises/musical elements in contact with other materials of artistic expression, seeking new topics in order to ques- tion the openness and democratization of musical composition.
Operating in a multifaceted space, in which everything is reversible, since every starting point may also be an arrival point, Pedro Tudela approaches sound as a plastic material — as a medium of expression. Exposing objects to multiple sound-musical ambiences that penetrate and alter their comprehension, encourages displacement of the centre of visual gravity to more abstract and variable zones of understanding. He stresses the rupture, the epistemological break, caused by contact between the sound element and the morphology of the object, avoiding stereotypes, fixation of a work in an absolute and definitive form. He uses strategies of disruption regarding the linearity and continuity of the relationship between the image and the word in visual space, inserting a new code of interpretation within the visual space. He organizes coexisting audio and visual forms, content or functional elements that lie beyond the realms of human reason, whose truth and need for ordering may have a rational origin. He explores disjunction as a tactic to invert the process of understanding, emphasizing the visibility and meaning of the interactive whole of the sound/image/ word. Juxtaposing languages liberates random feelings and intuitive perceptions that contradict the core link between the object and its form, or to a specific function due to the value of its use. Acting dialectically in relation to the connection between form and content, he encourages new recre- ations on the basis of reminiscences of processed materials, which endows authenticity to the work, because it disembodies it from utilitarian values that are traditionally engendered by an art system that is managed by the same logic based on market forces.
This exhibition doesn’t aim to provide a historical reading or offer an ab- breviated timetable of a long journey of exploration into the multiple connections between the sound, visual and verbal fields — i.e. the core topics that have been developed by the artist. It doesn’t even aim to present an exemplary selection of his past or current approaches within his multidis- ciplinary craft. It merely seeks — within a distant, saturated, fleeting and transient reality, that has almost become soundproofed due to the excessive number of discourses, images and sounds — to open up small gaps of intelligibility, within a vast and unique artistic production, centered on the meaning of hearing. It also aims to achieve a broad process of critical action, provoking reactions and disagreements concerning a reality that produces too many objects of consumption, with the promise of providing pleasure and satisfaction, while it actually reproduces an absence thereof.

excerpt from the text of Ivo Martins in the exhibition catalog "Esquírola"

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A obra de Pedro Tudela busca a reação do observador quando em contacto direto com o som e a imagem, sugerindo uma estratégia de criação organizada em regime aberto ao questionamento crítico. O seu método aleatório de construção é ditado pela tentativa, erro e desvio. Os seus trabalhos contêm algumas linhas de orientação recorrentes, a saber: o questionamento da edificação de barreiras separadoras entre as múltiplas linguagens sonoras ou musicais; a conjugação de campos sonoros recentes com a herança musical antiga, convidando a experimentar domínios de intervenção irreconhecíveis e anticonvencionais; o desejo de alcançar um limite equacionável para a noção de silêncio, enquanto amálgama definitiva de todos os sons ou ruídos; a proposta de “som” como elemento abstrato e fundamental à volta do qual se convergem os olhares e as apreensões; a confeção de objetos sonorizados que surgem de modo evidente, óbvio e inescapável, sugerindo um organismo sonoro identificável; a apresentação de uma poética visual e sonora que dissemina simbologias e significados, contaminando o espaço e os objetos nele contidos; a exploração de diferentes graus de comunicação entre as camadas do material sonoro e imagético; a produção de dispositivos de propagação que tanto podem irradiar simples efeitos performativos, como reafirmar a recusa a um só método de construção; o registo de uma reflexão ou recensão crítica alargada sobre o “som”, percecionado como matéria porosa, fecunda de sentidos; a denúncia do carácter excedentário, uniforme e saturado das mensagens e da comunicação que tende a insonorizar as verbalizações desinseridas da retórica do poder que domina uma sociedade deformada e submetida ao audiovisual; a eleição do experimentalismo como meio essencial à liberdade de expressão, único pressuposto de eficácia para se efetivar a verdadeira valorização do ato criativo; a subversão do circuito de processamento de envio e receção de mensagens, rompendo significados e intervindo através de uma desconstrução sonora materializada na forma dos objetos; a alteração de parâmetros de propagação do som usados como médium de representação e abstração; a reposição da imagem no espaço indeterminado do “som”, na tentativa de encontrar uma ligação entre a audição e a visão; a exploração do impacto dos ruídos/ elementos musicais em contacto com outros materiais de expressão artística, procurando novos tópicos de problematização sobre a abertura e a democratização do trabalho da composição musical.
Operando num espaço multifacetado, no qual tudo é reversível, pois cada ponto de partida pode ser o de chegada, Pedro Tudela aborda o som como matéria plástica, como médium de expressão. Expondo os objetos a múltiplas ambiências sonoro-musicais que penetram e alteram a sua apreensão, incentiva deslocações do centro de gravidade visual para zonas mais abstratas e variáveis de compreensão. Realça a rutura, o corte epistemológico, provocado pelo contacto do elemento sonoro com a morfologia do objeto, evitando estereótipos, fixação de uma obra numa forma absoluta e definitiva. Usa estratégias de desestruturação sobre a linearidade e a continuidade da relação entre a imagem e a palavra, inserindo no espaço visual um novo código de leitura. Organiza formas sonoras e visuais coexistentes, conteúdos ou elementos funcionais inacessíveis à razão, cuja verdade e necessidade de ordenação podem ter uma origem racional. Explora a disjunção como tática de inversão das lógicas de compreensão, enfatizando a visibilidade e significação do todo interactivo som/imagem/palavra. Justapondo linguagens liberta sensações aleatórias e percepções intuitivas que contrariam a vinculação do objeto à sua forma ou à função determinada pelo valor da sua utilização. Agindo dialeticamente sobre a ligação entre forma e conteúdo, incentiva novas recriações a partir das reminiscências dos materiais trabalhados, o que confere autenticidade à obra, pois desincorpora-a dos valores de uso tradicionalmente incensados por um sistema de arte gerida pela mesma lógica das forças de mercado.
Esta exposição não pretende realizar uma leitura histórica nem fazer um cronograma abreviado de um longo percurso de exploração sobre as múltiplas conexões entre o campo sonoro, o visual e a palavra, tópicos trabalhados pela artista. Não deseja sequer apresentar uma selecção exemplificativa do que foram ou são as abordagens do seu ofício multidisciplinar. Apenas procura, numa realidade alheada, saturada, fugidia e movediça, quase insonorizada pelo excesso de discursos, de imagens e sons, abrir pequenos hiatos de inteligibilidade de uma produção artística vasta e singular, centrada no significado da audição. Tem ainda como objetivo efetuar um amplo processo de atuação crítica, provocando reações e dissensões sobre uma realidade que produz demasiados objetos de consumo com a promes- sa de proporcionar prazer e satisfação, quando na verdade, reproduz a sua falta.

excerto do texto de Ivo Martins no catálogo da exposição "Esquírola"

Esquírola
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