sus-penso-em-pac

EMPTY CUBE, AppletonSquare, Lisboa

edição e/ou replicação.

A obra que Pedro Tudela apresenta no EMPTY CUBE, exibida uma única vez, aglutina a grande diversidade de propostas que compõem o seu longo e multifacetado percurso artístico. Com trabalho reconhecido como pintor desde os anos oitenta, na última década a sua obra tem-se ramificado em áreas da criação artística muito próximas da ideia de edição, seja na sua actividade como músico, como editor fonográfico, ou como escultor com uma forte conotação performativa, no sentido em que as suas instalações sonoras activam a performatividade do espaço em que opera, constituindo-se como acção no contexto em que a obra emerge.
“Sus-penso-em-pac” é uma obra iniciada durante a montagem do espaço físico do EMPTY CUBE para a apresentação da obra de um outro artista. Tudela relaciona desta forma a taxinomia do espaço expositivo, a sua ligação à prática artística e recontextualiza toda a memória do trabalho necessário à execução deste projecto expositivo e curatorial, expondo a referência a esses diversos momentos como um correlato compactado, um vislumbre retrospectivo como um factor reincidente, e actualizado, da construção deste projecto.
Esta obra tem uma amplitude que ultrapassa a instalação sonora, integrada no espaço contido do cubo. É neste sentido que o título nos envia para uma estratégia compósita de interjeições e adjectivos que recontextualizam todo o processo, vertendo sobre a atenção do espectador a aparente imobilidade, quase redundante quando nos confrontamos com a instalação. Contudo, esta obra é antes de mais um momento de reactualização de todo o projecto, que remete para a sua história constituindo-se como uma possibilidade irrepetível de condensar, através de associações visuais e sonoras, a serialidade, a diferenciação e a vivência a que o "white cube", como modelo expositivo histórico, é sujeito numa temporalidade anterior – assíncrona – à exposição.
Uma das condições essenciais desta proposta é a localização do cubo no espaço onde este é habitualmente instalado e que convoca, sem recorrer à citação ou à apropriação declarada, processos e estratégias anteriormente utilizados por outros artistas que, tal como Tudela, questionaram a relação do cubo – como espaço expositivo intrusivo – com a galeria Appleton Square.
A seguinte passagem, da autoria de Pedro Tudela, remete para um texto escrito durante o processo de trabalho que determinou o seu projecto para o EMPTY CUBE: “Neste cubo temos também pré-noções que já fazem a sua narrativa. Uma série de intervenções de artistas que se fixam à ideia lisa e inicial de os acolher. Temos portanto um resultado que soma o que foi pensado, o que se passou e a consequência do que está programado. Tudo isto é considerado história do lugar, mas também é objecto de trabalho. O que se passou permanece na memória de quem o presenciou e é supracitado ou descrito, com maior ou menor detalhe, a outros que desenharão a sua própria cópia do que já foi. Mas o que já foi pode ser armazenado com mecanismos que permitem uma reprodução posterior, sem que o lado mais exclusivo da descrição tenha um maior pendor ou influência na imagem formada. Refiro-me por exemplo ao vídeo e ao gravador áudio como engenhos que armazenam e replicam um tempo análogo ao que já passou, no instante em que se fez a captura. O objecto/cubo fica exposto a partir do dia em que foi imaginado. Exposto porque é aberto a novas formas de o pensar, exposto porque é apresentado, porque é narrado, porque é exposto!”
“Sus-penso-em-pac” é um gerador aleatório de elementos compósitos errantes na memória daqueles que acompanharam o desenvolvimento do EMPTY CUBE e simultaneamente uma obra de síntese operativa sobre as condições criadas para cada acto artístico que ali se tem desenvolvido. Este não é um trabalho que conhece uma filiação ideológica na prática da reciclagem como princípio de recuperação, mas que se sustenta a partir de uma estrutura interna fundada nas ferramentas conceptuais próximas da composição musical e da edição. A modulação, o tempo, a replicação e o ritmo desenham todo o espaço de convocação suspenso no objecto escultórico construído que se encontra no interior do cubo. Do "atelier" para o estúdio. Poderíamos dizer "from studio to studio"?

Maio 2011
João Silvério (Curador)

sus-penso-em–pac

Empacotar e comprimir assunto acerca de um lugar e deixar em suspenso o resultado é ideia bastante para se desenvolver um trabalho.
Um espaço pensado e vocacionado para a mostra de trabalho plástico, vulgarmente apelidado de “white cube”, tem características que não se antepõem ao que realmente interessa. O trabalho que acolhe e se faz mostrar no seu interior, afirma um recorte e não é absorvido. Por outro lado quando este espaço é realmente cúbico e amovível, permite-nos olhar e pensar nele como o módulo paradigma dos espaços expositivos, como uma base ou superfície sem ruído extra. Como lugar, este modulo, ergue-se de uma forma padrão ou seja monta-se e desmonta-se para todos os artistas de um modo idêntico. Se, da parte do artista interveniente este espaço é a área de intervenção, então inevitavelmente acrescentamos ao modelo algumas noções como a da área, do interior, do suporte, da matéria ou a do tempo.
Neste cubo temos também pré-noções que já fazem a sua narrativa. Uma série de intervenções de artistas que se fixam à ideia lisa e inicial de os acolher. Temos portanto um resultado que soma o que foi pensado, o que se passou e a consequência do que está programado. Tudo isto é considerado história do lugar, mas também é objecto de trabalho. O que se passou permanece na memoria de quem o presenciou e é supracitado ou descrito, com maior ou menor detalhe, a outros que desenharão a sua própria cópia do que já foi. Mas o que já foi pode ser armazenado com mecanismos que permitem uma reprodução posterior, sem que o lado mais exclusivo da descrição tenha um maior pendor ou influencia na imagem formada. Refiro-me por exemplo ao vídeo e ao gravador áudio como engenhos que armazenam e replicam um tempo análogo ao que já passou, no instante em que se fez a captura. O objecto/cubo fica exposto a partir do dia em que foi imaginado. Exposto porque é aberto a novas formas de o pensar, exposto porque é apresentado, porque é narrado, porque é exposto!
As palavras, per si, equilibram entre a objectivo e subjectivo. Quando compostas em frases imagine-se a quantidade de desígnios com que podemos deparar. Os significados aglomerados ditam múltiplos sentidos e naturalmente várias interpretações. Alem disso as palavras envolvem modulações, quando se misturam umas com outras obtemos novas sonoridades e com estas naturalmente novos sentidos ou novos conteúdos.
Tal como aconteceu em “UpSideDown” a matéria trabalhada é o espaço como história, como território, como suporte. A grande diferença está no modo como é resolvido o assunto plástico em concordância com a aproximação ao motivo. Enquanto em “UpSideDown” a acumulação de dados era feita pela relação da superfície do lugar e dos elementos envolvidos na instalação com o engenho suspenso num período de tempo; em “SusPensoEmPac” os dados são memória assimilada, comprimida, armazenada e suspensa no espaço numa forma arrumada e concluída; apenas temos possibilidade e assistir a um tempo compactado e preciso tanto na sua concepção como na sua difusão.
Para este trabalho recuperei quatro colunas de velhas aparelhagens áudio (estamos perante um espaço com quatro paredes que mesmo que não sejam exactamente iguais, são e definem e fecham o espaço). Recuperei também uma palete com uma área compatível com a massa assente no grupo de colunas e que compreende a ideia de mobilidade, peso, quantidade e volume. Cintas de aperto que comprimem o conjunto fazendo dele um monobloco que determina uma resistência e compressão tanto real como visual. Cabos de aço, em tensão, com esticadores fixos dos quatro lados do volume às quatro paredes e que obrigam à suspensão do bloco (colunas+palete+cintas) a meio da sala. O som, captado durante a anterior montagem do espaço, está igualmente comprimido e armazenado no que é o espaço standard de um compact disc áudio.. Este som , resultado de uma compactação linear do tempo total da montagem para um espaço de tempo de sensivelmente uma hora é a matéria de som que as colunas do bloco e em bloco, estão a debitar durante o período da mostra. Assim o tempo da mostra e o saber do trabalho (nas suas diversas frentes), existe somente durante a difusão do cd. Mesmo na sua estanquicidade é um trabalho que se faz de uma performance, que não deixa de ser tendencialmente igual para todos os autores que nele ou para ele trabalham.

Notas:
- A interjeição sus, serve para incitar ou despertar.
- A preposição em, indica a relação de lugar.
- Em geral quem pensa não o faz de um modo diferente do que ditam os adjectivos que alinham ideias, que fazem reflectir, raciocinar, tencionar, ter no pensamento, imaginar, planear, opinar e/ou ajuizar.
- Suspenso é adjectivo que qualifica o estado pendente ou pendurado, mas também estar parado ou imobilizado ou mesmo hesitante e interrompido. Quem suspende, deixa pendente, interrompe ou mesmo faz parar.

Pedro Tudela 2011

sus-penso-em-pac
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